Onde o mundo já foi dominado!

Onde o mundo já foi dominado!
Povão, se eu tivesse mais de dez “roiais” no banco ia me atrever a abrir uma quitanda e encheria de “malacabado” pra vender as couve, os tomate, os pepino comigo . Não que eu ache que esses arruinados sem perna, sem braço, puxadores de cachorro, com aparelhado dos “zuvidos”, arribado numa cadeira de rodas sejam melhores, mas quem tem alguma deficiência, em geral, procura se dedicar bastante para que não venham achar que ele é menos do que ninguém.
“Oficorsi” que existem os sem eira nem beira, mas costumamos deixar poucas brechas e temos garra, sem sombra de dúvida, pra mostrar que somos “inteligentchis” e profissionais como qualquer um.
Bem, e num é que uma empresa lá dos Rio de Jameiro (tinha uma professora no colégio que falava assim, de Jameiro, mesmo ) tá apostando na dominação do mundo por parte da
Matrix de quem tem alguma deficiência e tem contratado um monte de “mamulengo”?! Aêêêêê
Claro que eles não estão fazendo um favor, estão, sim, cumprindo a
lei de cotas que obriga as empresas com mais de cem funcionários a reservarem vagas pra “nói”, mas eles não estão simplesmente empregando: tão mostrando que somos capazes de fazer a diferença no ambiente de trabalho e dando condições plenas para que isso aconteça.
Achei bacana demais da conta isso e convidei a Flavinha Gallo, que quebra pedra por lá , a contar o que tem rolado. Eu passei uma maquilagem, um batonzinho e penteei os cabelos do texto dela, tá bão?! . Mas, saquem só que exemplo “maraviwonderful”:

A empresa que eu trabalho aqui no Rio, a Chemtech, cresceu absurdamente nos últimos anos (passou de cem pessoas para mil em menos de 4 anos!) daí veio a necessidade de cumprir a cota do “malacabados” num curto espaço de tempo.
E eles fizeram isso de maneira que considero muito eficiente e nem um pouco apelativa… A gente sempre acha que as empresas fazem isso só por obrigação e tudo o que fazem acaba sempre sendo mais um apelo de marketing do que realmente uma iniciativa para garantia dos direitos de todas as pessoas “Assim como Você”, assim como eu, de serem produtivas, incluídas e atuantes…
Mas no fim das contas fiquei admirando a forma com que tudo foi conduzido por aqui e principalmente os resultados obtidos que foram bem expressivos, e inclusive ultrapassaram o número de contratações que a lei impõe, e transformaram esse processo de captação em algo contínuo e não apenas pontual. Uhrúúú
Antes a empresa tinha apenas cinco pessoas deficientes, hoje já são 42. E eles escritórios em seis estados do país, e destes, quatro têm “matrixianos”. E saca só, eles não se limitaram a selecionar pessoas com “uma deficiência bem levinha” e para trabalharem em funções “administrativas” (boys, auxiliares, secretárias, etc.).
Aqui foram contratadas 35 pessoas para o quadro operacional e técnico, preenchendo vagas já existentes e atendendo a necessidades dos gerentes de projeto. Apenas sete foram para funções gerais, inclusive dois massoterapeutas estropiados dos “zóios” .
Para exemplificar que a dominação do mundo começou por lá e que a empresa não apresentou restrição quanto às deficiências, temos um rol de “malacabados”: o Ricardo Gonzalez, que é tetraplégico, o João Rabelo, que tem surdez profunda (deficiência auditiva bilateral), o Bruno Moreira, que tem hemiparesia e até um com Síndrome de Gilles de la Tourette (que provoca movimentos involuntários no cabra), o Rafael Carvalho.
E por lá também “trampa” a Cris Costa, cadeirante, blogueira do
Mão na Roda, junto com o Eduardo Câmara, e que é formada em comércio exterior.
“Trabalhava numa empresa na qual fiquei dez anos como analista de sistemas júnior, sem nenhuma promoção. Quando vim pra cá, já me contrataram como pleno. O que e achei mais legal foi que criaram um ambiente especial pra mim colocando acolchoados na minha mesa para que eu não me machucasse com os meus movimentos involuntários e fizesse menos barulho também” (Rafael Carvalho).
O João Rabelo já era desenhista quando veio trabalhar na Chemtech. Ele tem surdez profunda e não lê lábios, mas isso não foi problema para a integração dele com a equipe. “Vir trabalhar aqui foi ótimo pra minha auto-estima. No começo houve alguma dificuldade, mas logo vi que tinha espaço pra eu crescer”.
O Ricardo Gonzalez é tetraplégico e formado em ciências biológicas com especialização em análise de risco. Para trabalhar ele utiliza um software que o permite utilizar o computador por meio de comandos de voz, o que dá total autonomia para ele enquanto trabalha.
“Quando eu terminei a faculdade, fiquei preocupado pensando como seria meu desempenho no trabalho e como seria para arranjar um ‘job’. Fiz algumas entrevistas, mas era comum quererem apenas ‘deficiências leves’. Aqui tá rolando muito bacana a integração.”
Durante este crescimento do domínio da “matrix” na Chemtch, TODOS os funcionários foram envolvidos. Na intranet da empresa, as vagas em aberto eram constantemente divulgadas, solicitando indicações dos funcionários. Foram feitos “treinamentos” para toda a galera aprender a lidar com as diversas deficiências dos novos integrantes da equipe:
Recebemos o “Manual de Convivência”, escrito pela
Mara Gabrilli, participamos de conferências sobre gestão de pessoas com deficiência, seminários internacionais sobre o tema, os gerentes receberam muita informação e treinamento.
O Bruno Moreira, que tem hemiparesia, entrou na empresa como boy. Fez um curso de AutoCAD oferecido pela Chemtech e foi promovido para desenhista cadista.
“Fiquei bastante tempo procurando emprego e ficava me perguntando o que estava errado comigo. Então fiz um curso de orientação profissional e cadastrei meu currículo no site da Chemtech por orientação do instituto. Fui entrevistado e entrei. Agora quero pegar as oportunidades e aproveitar cada uma delas”.
Lógico que para tudo isso ser viável, a sede da Chemtech, aqui no Centro do Rio, teve que ser adaptada e foram feitas obras para acessibilidade nos antigos e novos andares.Foram alterações simples na infraestrutura, como rampas e banheiros acessíveis, e que até hoje continuam sendo feitas porque ainda não são todos os andares prontos e, como a empresa não tinha cadeirantes antes, são eles próprios que levam suas demandas e pedidos de melhorias aos gerentes e assim tornam o processo de adaptação contínuo.
A empresa também oferece um auxílio-transporte que varia de acordo com a necessidade de cada pessoa. A Chemtech também oferece desconto de 20% para a compra de aparelhos auditivos para funcionários e familiares. Todas as nossas reuniões e encontros corporativos hoje contam com a “atuação” de uma intérprete de libras para atender aos “matrixianos” que possuem qualquer deficiência auditiva.
A empresa promove também, periodicamente, um café da manhã com os funcionários deficientes para promover a integração e garantir que o processo de inclusão nas suas equipes está sendo eficaz.
Foi maravilhoso pra mim, poder ver que tanta gente está mais feliz e realizada profissionalmente por conta de uma “obrigação” que a Chemtech está cumprindo, por conta de algo que não deveria ser exceção na nossa sociedade, mas sim uma regra.
Todas estas pessoas das fotos estavam prontas, só esperando uma oportunidade de mostrarem sua capacidade, seus talentos, independente de suas limitações… Todas elas queriam ser vistas por tudo que podem realizar, como qualquer outra pessoa, e não pelo rótulo da deficiência que possuem.
Tudo isso o que eu escrevi não foi pra festejar o cumprimento de uma lei, mas sim pra mostrar pra vocês que uma empresa, um grupo de pessoas aqui nesse Rio de Janeiro, decidiu se empenhar de verdade e fazer a coisa direito.
Não dá pra se satisfazer com metade, como muitos empresários por aí decidem fazer, de um jeito “torto”, inadequado e sem continuidade, fazendo com que as pessoas se sintam sem utilidade, apenas “tapando um buraco” imposto pela lei…
Bom findi, meu povo! Beijo nas crianças!

http://assimcomovoce.folha.blog.uol.com.br/

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