Ah, o amor sem sal!

Não sei. É uma impressão minha. Acho que shopping center é um lugar bem insosso, mas se você for perguntar isso pra maioria das pessoas elas vão dizer que não. É um direito. Aos sábados e domingos muitos pais levam os seus rebentos ao shopping; as crianças merecem. Merecem? Claro que sim. O shopping é o mundo. O mundo cabe no shopping e na cabeça das crianças. O shopping se enche. Pernas pra todos os lados e tome pernada!

As pessoas vão ao shopping com os mais variados interesses. Uns preferem a praça de alimentação, outros o cinema, alguns apreciam as vitrines, outros o playland e outros nem isto nem aquilo.

Flanar é o esporte de muitos no shopping. Flanar e flanar. O shopping é uma praia com ar condicionado. O shopping é um mar sem areia, sem sol e sem individualidades. Numa mesinha redonda um casal discute a relação em meio ao enxame de gente. Amor sem sal. Amor banal. Amor.

De shopping eu entendo: todos os finais de semana visito um. Haja shopping. Pra que tanto shopping, meu Deus? Sim, as pessoas precisam se sentir mais felizes. A vida sem o shopping seria um tédio. O shopping, o shopping. Como? Qual é o meu interesse de ir ao shopping? Ora, nenhum. Vou por que preciso e se preciso, vou. Acontece que recito poesias nas livrarias e muitas livrarias funcionam em shoppings.

Se não sabe, já vou avisando: recitar poesias além de ser um deleite tornou-se a minha profissão, embora tenha gente que ache que não. Então, é por isso que vou ao shopping. Só por isso. No shopping, as tribos se encontram. Os que amam os livros levam os filhos à livraria. A livraria é o meu lugar no shopping. Crianças amam os livros, mesmo aquelas que ainda não sabem ler.

As livrarias vendem livros, computadores, cadernos, cafés, salgadinhos… Recito poesias no setor infantil. O negócio é meio surreal. Em meio aos clientes, ávidos pelo desejo de comprar, eu começo a jogar com palavras. Aos poucos, vou ganhando a audiência dos pais e das crianças. Logo, os meus ouvintes entregam-se ao fascínio da poesia e, quando dou por mim, noto que a plateia embarcou no voo livre, leve e sem brevê proporcionado por palavras que desvelam o mundo possível das coisas simples.

Complicações? Nada, nada. As pessoas só sem complicam um pouqinho na hora em que tentam falar os trava-línguas, os trocadilhos… Literalmente esquecem de tudo e, principalmente, de si mesmas.

Eu também me esqueço.

Pronto, agora não tem mais jeito! Quando isso acontece, é porque todo o meu corpo esteve a serviço daquilo que eu desejava comunicar. Esquecimento amplo, total e irrestrito.

Ah, o amor sem sal… Ali na livraria, dentro do shopping, tornou-se fraternal.


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