Devaneios e surpresa

Alegria boa é aquela que nos surpreende, aquela que nos pega de bermuda e pés no chão quando estamos justinhamente acomodados no colo bom dos nossos mais incomunicáveis devaneios. “Pai, Pai, Paiê!” Que foi filha? “Telefone pra você”. Era o carinha. Joelito, a boa pessoa de sempre, o amigo-irmão a me brindar com a brandura da sua amizade.

Como agrônomo, ele sabe muito bem que tudo nessa vida merece cuidados. E as amizades são como as plantinhas que enchem de graça a nossa existência. A fala altaneira do Joelito tinha o objetivo de revolver a terra dos afetos. Afetos precisam de manejo, se não embrutecem.

De tempos em tempos é necessário fazer isso. Conheci o Joelito na Casa dos Estudantes da UEL (Universidade Estadual de Londrina) em 1986. Ele, aluno de Agronomia, e eu de Letras. Naquele agosto chovia e fazia muito frio no Norte do Paraná.

Na mochila: umas duas calças, algumas camisetas, um tênis velho, livros e só. O único dinheiro que levei foi um presente da dona Nice, avó do Dráusio – outro amigo-irmão. Ela me chamou de canto e colocou um rolinho de cédulas na minha mão, tudo na maior discrição, ao mesmo tempo em que me desejou toda a sorte do mundo. Ah, dona Nice!

Então, o Joelito, desde o primeiro dia, virou o meu amigo paciente. No trote dele, rasparam-lhe a cabeça. O moleque ficou carequinha da silva. Passei a chamá-lo de Gafanhoto, uma alusão ao personagem do seriado Kung-Fu. Eu estudava à noite e ele pela manhã. Quando eu chegava da faculdade, ele já estava deitado esperando um convite. A gente ia pra cozinha da casa e detonava a comida que havia naqueles panelões. Alimentados, era hora de conhecer os mistérios da cidade. Nos botecos, eu recitava os meus poemas, e o Joelito junto me dava o maior amparo moral.

Foi assim que numa bela noite, a gente desembocou no Teatro Zaqueu de Melo. Era um domingo, fomos assistir a peça “Será que a gente influencia o Caetano?” de um jovem ator e dramaturgo chamado Mário Bortolotto. Show de bola. A peça narrava a história de dois moleques que queriam revolucionar a música popular brasileira. Eles participam de um festival e ficam em penúltimo lugar. Assistir aos espetáculos do Marião não tinha coisa melhor.

Frio e chuva, tênis e roupas encharcadas. Essas coisas nunca foram motivos pra gente deixar de existir existindo. Joelito ainda permaneceu por uns 40 minutos ao telefone, quando ele desligou, me religuei novamente aos meus devaneios.



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