Dor de cotovelo ou birra?

Sempre desconfiei daquele homem educado. Birra minha. Pode ser. Mas vamos aos fatos. O homem, cabelos grisalhos, riso amarelo no canto da face vermelha. Homem fino, leitor de jornais, bebedor de vinhos, um entusiasta das coisas do seu país. Lá sim, tudo presta, tudo é bom. Não é essa joça chamada Brasil! Sim, um argentino – mas nada de fobia. Argentino como poderia ser brasileiro, americano, italiano… (ser humano, será que você me entende?) Enfim, um homem educado, de fino trato. Um bebedor de vinho, um leitor de jornais, aquele homem. Desconfiei dele desde o primeiro dia. Sei lá o porquê, talvez por seu espanhol empolado ou porque fosse casado com a mulher mais bonita da cidade. No começo, claro que acreditei – piamente – que aquilo só podia ser birra minha, dor de cotovelo. A gente, vez ou outra, se trombava pelos descaminhos da vida: numa festa, na porta da igreja, durante as caminhadas pelas ruas do condomínio. Dizem que até as pedras se cruzam, não é mesmo? Da minha parte, tentava ser cortês com o portenho, afinal, ele não era um homem qualquer, tratava-se de um bebedor de vinho, um leitor de jornais. Fartava-se de informação por volta das 6 da manhã, quando a maioria dos humanos se preparava para sair de casa rumo ao trabalho. Ele não. Por mais que alguém se esforçasse, não tinha cristo que conseguisse fazer com que o homem desgrudasse a gorda bunda daquela poltrona de couro de jacaré. Nem mesmo para ir a padaria comprar o pão e o leite das crianças. Certa vez, no Dia das Mães, encontrei a mulher mais bonita da cidade no mercado, sozinha, fazendo as compras do mês. O marido, infelizmente, não pôde acompanhá-la. “Tá lá em casa lendo o jornal”. Em dias especiais, costumava ler aquelas frivolidades acompanhado por uma taça de um Chacra (Safra 2006), envelhecido por 14 meses em barricas de carvalho. Lia e bebericava. Bebericava e lia. É como se Baco e Guttemberg fossem seus parceiros naquele momento de fruição. E aquele homem educado, com o seu riso amarelo, também gostava de picardias, ainda mais quando sentia ciúmes da mulher mais bonita da cidade. Fino, jamais daria uma bolacha no atrevido que ousasse mirar ou fazer um gracejo à sua amada. Sinceramente, quando o vi destilando o seu veneno contra pessoas desarmadas, logo confirmei as minhas suspeitas. Aquele homem educado também era baixo em sua vileza. Ah, quando a mulher mais bonita da cidade chegou a casa, cheia de sacolas, com o porta-malas abarrotado com as compras, aquele homem educado, leitor de jornais e bebedor de vinhos, mal acabara de ler o caderno de política. Ele apenas disse à mulher: “trouxe minhas garrafas de vinhos?” É isso, só pode ser birra minha.

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