entrevista com um agnóstico

É a primeira vez que trago aos nossos leitores uma entrevista. E ninguém melhor para começar esse quadro, do que Johnny Melo: Licenciado em Filosofia, sendo professor de Filosofia e Sociologia do Ensino Médio. É ateu. Ou como prefere, agnóstico. Atualmente escreve no seu blog pessoal: O cão chupando manga.

“Sou formado em Filosofia (licenciatura) pela UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e atualmente curso História (licenciatura) na mesma instituição. Leciono as disciplinas de Filosofia e Sociologia para turmas do ensino médio em um colégio particular de Natal. Tenho 31 anos, sou solteiro, não tenho filhos (ao menos que eu saiba), e meus interesses são artes em geral, principalmente cinema, literatura e música, e os prazeres mundanos. Algo que considero importante pra me compreender melhor é que não levo a vida a sério, aliás, não levo quase nada a sério. Ao contrário do que pode aparentar devido a minha formação, não gosto de intelectualismos. Prefiro conversar um monte de besteiras com meus amigos a ter papos-cabeça sobre a importância da obra de Heidegger na contemporaneidade. Acho que o meu blog, o Cão Chupando Manga, é uma boa representação do meu pensamento anarco-porraloca. Trato assuntos sérios, e outros nem tanto, sem dar-lhes a menor seriedade, mas, sim, escrachando-os. Sou anarquista não no sentido político da ideologia, pois não sigo os pensamentos dos teóricos, seja Bakunin ou Proudhon. Sigo tão somente os meus próprios pensamentos, sem direcionamentos político-partidários. Sou um libertário e também um libertino – em certo sentido. Porém o mais importante a saber é que não sou ateu, sou agnóstico, mas no decorrer da entrevista explicarei isso melhor.”

PNC – Para embasarmos nossa entrevista, perguntamos: O que o ateísmo é e o que ele não é?
O ateísmo é uma crença, uma questão de fé. E ele não é uma verdade absoluta.

PNC > Sendo ateu em que você acredita especificadamente? Você já acreditou em Deus? Você já pertenceu a uma religião antes de ser ateu? Qual? Qual era a sua posição nela?
Como eu disse, não sou ateu, mas, sim, agnóstico. Isto significa que não afirmo e nem nego a existência de uma força superior supostamente orientadora do Universo. Meus parcos conhecimentos, limitados pela minha condição de mero ser humano, não me oferecem suficiente argumentos para me convencer da existência de alguma forma de divindade. Contudo, ainda que possa admitir que haja alguma força criadora e ordenadora do cosmos, estou certo que esta não é o Deus judaico-cristão. Como a imensa maioria das pessoas têm suas crenças vinculadas a mitologia judaico-cristã, negar a realidade desse ser mítico me faz um ateu aos olhos delas. Eu fui pagão até os 25 anos de idade, quando, para dar uma alegria a minha mãe, fui batizado na Igreja Católica, que freqüentei durante alguns meses. Entretanto, nunca acreditei de fato em Deus, e isto desde criança.

PNC > O que lhe levou ao agnosticismo? O agnosticismo requer fé?
Posso dizer que o que me levou a descrer no Deus das religiões monoteístas foram as contradições e absurdos observados por mim nas explicações mágicas, em seus livros sagrados e em seus argumentos para contradizerem as suas óbvias falhas.

PNC > Qual raciocínio você segue na crença de que Deus não existe?
Um dos mais claros é aquele que aponta uma falha irremediável na descrição do Deus judaico-cristão. Eles dizem que o seu Deus é onipotente, onisciente e onipresente. Isto, em síntese, é a perfeição. Um ente que possua esses atributos possui, ou melhor, É a completude. A esta entidade tudo é possível, até porque ele seria a origem de cada particular existente no Universo, sendo este próprio uma extensão dela. Dessa forma, nada falta a ele, pois ele é tudo. Contudo, os que nele crêem o fazem afirmando estar satisfazendo a vontade do Criador. Pois bem, vontade requer desejo, desejo requer falta e falta requer incompletude. Ao dizerem que o seu Deus quer que eles façam isto e aquilo, que todos acreditem nele, pois ele é perfeito, eles, sem se aperceberem, negam a perfeição que apregoam. Toda a Teologia das religiões monoteístas se baseia em duas colunas: a perfeição do Deus e o desejo deste que os humanos o venerem. Contudo, uma nega a outra. Além do mais, caso houvesse uma entidade tão poderosa, ela se manteria alheia a miserável existência dos seres humanos, não se ocupando de realizar mágicas para convencer alguns milhares de homens e mulheres de sua existência. Isto é mais um comportamento de um mágico de rua, um ilusionista, e daqueles bem orgulhosos e vaidosos. E a Perfeição não pode ter orgulho e vaidade. Pode?

PNC > Sendo assim, você se sente preparado, com argumentos suficientes, para um debate com um teólogo a respeito da existência de Deus?
Não sei se estou, mas eu não temeria.

PNC > Quais os grandes desafios enfrenta um agnóstico? Já passou por alguma frustração por conta disso?
O maior desafio que alguém que não acredita na Bíblia e no Deus convencional enfrenta é mesmo o preconceito. Quando digo que não acredito em Deus, geralmente as pessoas olham para mim como se eu estivesse confessando que estuprei e matei umas 300 crianças, mas nunca vivi nada muito sério por conta disso.

PNC > E como tratar o preconceito? Ou melhor, como você trata com o preconceito?
Eu acho normal. A maioria das pessoas acredita na mitologia judaico-cristão inerentemente, sem jamais se ter feito qualquer indagação a respeito. Elas nascem ouvindo falar sobre a Bíblia e Jesus e passam a ter essa crença como algo incontestável. Então considero normal que elas estranhem alguém que não crê. Na maioria das vezes não me sinto agredido.

PNC > Mesmo com o evidente preconceito, tem crescido o número de ateus aqui, existe uma razão menos obvia para esse crescimento?
Acho que isso se deve a uma maior possibilidade de informação e também a revolta com o andamento das coisas no planeta.

PNC > Entre distintos ateus que conhecemos, além de seu ceticismo é semelhante neles certa aversão às religiões de todo o tipo. Chegam até a definir os religiosos, crentes na existência de Deus, como ignorantes e hipócritas. O que você pensa acerca disso? Podemos dizer que é geral, entre os ateus, esse tipo de pré-conceito?
Olha, eu to cagando e andando pras religiões. Tenho, sim, aversão por elas, contudo não saio por ai tentando converter as pessoas ao meu agnosticismo. Não creio que exista esse Deus, então pra mim tanto faz que as outras pessoas acreditem nele ou não. As demais pessoas acreditarem ou não nesse mito não fará diferença nenhuma pra mim. O que me revolta é a utilização da boa fé das pessoas por pastores e lideres religiosos mal intencionados. Cito abertamente a seita Igreja Universal do Reino de Deus. Acho que muitos ateus, mais até do que os agnósticos se colocam numa posição de “descatequizar” os religiosos. Mas particularmente eu não gosto disso. Acho que se alguém está feliz crendo no Jeová, em Jesus, então está ótimo. Continue assim.

PNC > A religião faz mal ao mundo?
Bom, eu não procuro fazer as pessoas descrerem em Deus, mas, sim, afirmo que as religiões institucionais, aquelas organizadas, sobretudo as três religiões monoteístas, são, sim, a pior coisa que o homem já criou.

PNC > Você acha, Johnny, que o aumento de religiosos pode interferir no progresso do país?
Depende do tipo de religioso. Se os pentecostais, fundamentalistas, se tornarem ainda mais numerosos e elegerem candidatos próprios, de modo a aumenta a chamada “bancada evangélica” no Congresso consideravelmente, então estes terão a possibilidade de barrar avanços científicos e comportamentais que considerem contrários a sua doutrina.

PNC > Como você imagina um mundo em que não houvesse religiões?
Eu não consigo imaginar este cenário. Eu já li que estudos realizados com os grandes primatas mostraram que eles possuem uma capacidade de conceber uma transcendência, isto é, imaginar uma realidade além desta, e isto é o primeiro passo e o mais importante para a concepção religiosa. Creio que a religião seja uma característica indissociável do homem a partir do momento que ele é mortal. A morte é a única certeza que temos. A única coisa da qual não podemos escapar. E isto gera angústia e medo. Para amenizar isso, o homem recorre a explicações místicas. É um consolo.

PNC > Se tivéssemos um ateu (ou agnóstico) como candidato a presidência do Brasil, você acha que ele teria chances de ser eleito? Ou é “jogo perdido”?
Mas já tivemos um presidente ateu, o Fernando Henrique. Mas ele nunca assumiu isso publicamente, político que é. Quando concorria a prefeitura de São Paulo, nos anos 80, durante um debate, o então candidato Fernando Henrique foi questionado pelo jornalista Boris Casoy sobre o seu ateísmo e a reação de Cardoso foi exclamar: “Você prometeu não fazer essa pergunta”. Dizem que foi por isso que ele perdeu a eleição para Jânios Quadros. Não creio que um candidato assumidamente ateu ou agnóstico tenha capacidade de se eleger Presidente.

PNC > Seus alunos são cientes de seu agnosticismo? Caso sim, quando eles descobriram qual a reação deles e como são hoje em dia? Há alguma diferença perceptível no tratamento com você em comparação com um professor não ateu?
Sim, eles sabem que eu sou agnóstico e que não acredito no Deus no qual eles crêem. Eu não cheguei e me apresente como sendo um cético, mas pela forma como abordo os assuntos em aulas eles perceberam que havia algo “errado” e, quando perguntaram, respondi naturalmente. No colégio em que trabalho atualmente, os alunos receberam muito bem a “novidade”, até mesmo os que seguem religiões pentecostais, geralmente os mais radicais. Porém num outro colégio tive problemas com alunos evangélicos que não aceitavam que eu expusesse em sala de aula argumentos para mostrar que a Bíblia, sobretudo o Livro do Gênese, é um mito, uma alegoria.

PNC > Para Voltaire “a falsa ciência gera ateus; a verdadeira ciência leva os homens a se curvar diante da divindade”. Até que ponto você concorda com a afirmação? Você acredita na conciliação da Ciência com Religião?
Como eu já disse, eu não nego que possa haver uma força, um poder, responsável por tudo que há, e se houver isto está além não apenas do meu, mas do entendimento de qualquer um. Ao refletir sobre as explicações cientificas para a origem do universo e da vida na Terra, a complexa e intrincada série de combinações aleatórias que levaram a criação do primeiro microorganismo, vejo uma beleza indescritível nisto, muito mais do que no simples ato de pronunciar uma palavra e as coisas se formarem do nada ou do barro se esculpir uma figura que ganha vida ao ser soprada. Por isso não acho que a ciência e a fé numa energia misteriosa, inacessível e superior a nossa compreensão sejam incompatíveis. Contudo, não consigo entender como existam cientistas que acreditem na Bíblia.

PNC > A fim de difundissem, ou melhor, para que ajudassem no reconhecimento de certas pessoas como ateias um grupo criou a Sociedade da Terra Redonda. Para você essa é a verdadeira razão da instituição ou existe uma preocupação dos ateus para com a difusão do ateísmo?
Não posso opinar, pois não conheço essa Sociedade da Terra Redonda. Não acho que os ateus se ocupem em difundir o ateísmo. Mas vejo, sobretudo na internet, em comunidades, ateus e cientistas preocupados em mostrar uma visão mais realista e não fantasiosa dos fatos históricos.

PNC > Que diria hoje a um religioso que lhe afirmasse: “Tu não crer em Deus, mas Deus crer em ti”.
Eu diria “Amém”.

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