Na hora do culto

Tem gente que não dá o braço a torcer. É turrona mesmo. “Eu não, sou diferente”, ele dizia. Faço-me de morto pra depois atacar. Orgulhava-se de ser fingido. Achava que assim a espécie humana ganharia uma sobrevida. As pessoas o chamavam de tudo quanto é coisa: traíra, vigarista, falso… Com a fineza que lhe era peculiar, agradecia pelos elogios. Podia ter todos os defeitos: menos um. Não admitia a possibilidade de parecer hipócrita. Isso abominava veementemente. Acabou criando confusão na igreja que frequentava – perto do Largo 13. Tudo por causa da sua maldita predisposição ao enfrentamento. Colocou o pastor na parede no meio do culto. O pastor o chamou de blasfemador. Para quem já foi chamado de vigarista, falso e traíra a palavra proferida pelo pastor ecoou no deserto e perdeu a força no vento. Ele disse para toda a igreja ouvir que o pastor assim como a maioria dos seus seguidores adoravam fazer proselitismo barato. Olhando fixamente para o dono da igreja disse-lhe: “Se tem algum blasfemador aqui, este um é o senhor. De fato, sou um fingido assumido enquanto o senhor é um fingido enrustido sob o manto da moral manca. Eu não sou bom, meu pastor! O senhor também não o é, e muito menos essa comunidade tacanha! Tenho consciência disso e me esforço pra não ser tão ruim e intolerante com os outros como os irmãos são comigo”. Depois acabou esconjurado, mas não deu o braço a torcer. Como disse no começo: tem gente que é turrona mesmo!

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