O caminho

Imagem:www.diaadiaeducacao.pr.gov.br

Quando eu descobri a minha voz, primeiro fiquei em estado de choque e disse para mim mesmo que aquela voz, a qual saia de dentro do meu ser, não era a minha voz. Voz cavernosa. Foi a primeira vez que me escutei de verdade. Muitas vezes temos uma incapacidade de ouvir a nós mesmos e, quiçá, aos outros. Ouvir a si mesmo e aos outros – já escrevi aqui – é um ato de amor. Mas passado o susto inicial, comecei a conviver melhor com o fato de que eu tenho uma voz diferente da que eu pensava que tinha. Voz nos dá vez na vida. Quem não tem uma não tem nada. Com a voz podemos pedir licença, demonstrar o nosso afeto, as nossas insatisfações, as nossas crenças. Com a voz podemos trocar com as pessoas uma coleção toda de frases adormecidas, de sentimentos amotinados. Podemos até ser duros se quisermos. Com a voz podemos amolecer corações, acalmar aflições. Podemos fazer a guerra e a paz. Tem gente que tem voz de trovão e tem gente que tem voz de algodão. Tem gente que usa a voz para chatear e tem gente que usa a voz para encantar. A voz é portadora de sopros, quando exercito a minha, gosto de compartilhá-la em meio ao trânsito de outras vozes. Sei lá… acho que aprendo com a voz dos outros. Gosto demais de jogar com os pequenos. A exemplo do maestro Villa-Lobos, eu também tenho uma grande fé nas crianças. São elas, com suas vozes sem freios, que nos apontam – sem subterfúgios – o caminho da leveza.

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