O chope da rapaziada

Ele foi sutil como um jogador de futebol americano tentando, a todo custo, impedir que o advesário fizesse um touchdown. Era 7 da noite, a rua tava apinhada de gente. Na laje o pagode rolava em altíssimos decibéis. Homens e mulheres pareciam pipocas sacudindo seus respectivos esqueletos.

A fumaça do churrasco perfumava o local como se fosse gelo seco, só pra dar um tcham. A vida festejava a carne. Coxas e peitos de frango. Carnes de todos os tipos. A vida em festa. Pra molhar as palavras: latinhas e mais latinhas de cerveja.

Todo mundo contente, comunidade alimentada e aditivada. Menos ele. Enciumou da sua nega a quem chamava de morena – diga-se de passagem – um avião de morena! E quem não sentiria ciúme de uma mulher assim? A danada, além de linda, tinha samba nos pés. A rapaziada não desgrudava os olhos daquele pitelzinho, nem mesmo as invejosas concorrentes.

Fez-se uma roda, todos batiam palmas, mais ou menos ritmados, enquanto a belezura sambava envolta pela fumaça da carne que assava. O namorado ficou de cabeça quente. Achou aquilo um exibicionismo besta. Mas a moça só queria dançar.

E dançou.

O sujeito, num ato impensado ou pensado, passou a chamar a morena de sua isso, sua aquilo. Revoltado, fez como fazem aqueles meninos mimados que levam a bola embora só porque ninguém lhes passam a pelota.

E como um legítimo mimado, dono da bola, o tal namorado puxou abruptamente sua nega pelos braços. Mal deu pra vê-los descendo as escadas, dobrando a esquina e sumindo no breu da noite. E foi com essa sutileza que o cara colocou água no chope da rapaziada.

Isso mesmo, à 7 da noite.


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