O flautista da rua José Cianciarullo

Sábado à tarde. As pessoas iam apressadas até toparem com ele, o flautista da rua José Cianciarullo, no centro de Osasco. Com a mão direita o homem segurava um guarda-chuva preto, todo desgrenhado pelo vento. A mão esquerda apoiava a flauta doce aos lábios. Usava uma boina cinza, toda puída. Vestia também uma camisa amarela e uma calça marrom de tergal. Aos pés, um chinelinho de dedo, um havaiana, verde água. Bem à sua frente, uma caixa vermelha de refrigerantes servia de apoio para uma caixinha menor onde as pessoas contribuíam com a arte dele. Digamos que a contribuição não era assim um cachê, mas sim uma forma de incentivo. As pessoas assim que o viam logo lhe ofertavam umas moedinhas. O flautista – sem tirar a flauta da boca – agradecia a oferenda tocando sem parar. O segurança do hospital municipal disse que o flautista chegou ao local por volta das 9 da manhã e não parou mais de tocar. Um fato, o flautista da rua José Cianciarullo, tocava mal pra caramba e talvez nem soubesse diferenciar a nota ré da nota si. Não que ele devesse saber disso. O som que saía da sua flauta doía os tímpanos de qualquer ser vivente, de tão grotesco que era. Acho que nem de música podia ser chamado aquilo. Mesmo assim as pessoas não paravam de depositar moedas naquela caixinha. Curioso, perguntei a uma senhora se ela tinha apreciado o trabalho do flautista, no que ela me disse que contribuía pra ver se o homem desistia, mas que nada! A cada pessoa que lhe fazia um agrado, o miserável sentia-se mais encorajado e renovava o fôlego e seguia firme na ladainha. E isso durou até às cinco da tarde quando caiu um temporal e o flautista foi embora. Cá com os meus botões fiquei pensando: qual seria a missão do flautista da rua José Cianciarullo? Não tive dúvida, o pobre homem estava ali por uma única razão: chamar chuva!

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