Portas e becos

As portas haviam se fechado para a mulher de olhos bem pretos feitos jabuticabas maduras. Como se as portas se fechassem sozinhas. Portas abrem-se e se fecham com a nossa ajuda. Acho que a mulher sabia dessa máxima, mas não queria admitir. Há certas coisas que são duras de passar recibo ainda mais quando se está só e não se encontra ninguém que nos estenda uma mão salvadora, umas palavras apaziguadoras. Andava cabisbaixa. As tijoladas vinham de todos os lados. Um casamento falido, o desajuste natural que isso provoca em quem vive a dor de uma separação. Sem dinheiro pra pagar as contas do mês e sem perspectivas de vida melhor, refugiou-se num curso de teatro gratuito oferecido pela prefeitura. Lá procurava – quem sabe – a menina alegre de outrora. O senhor pensa que é fácil encontrar um beco com saída quando a nossa auto-estima vale o mesmo que um monte de bosta? Dizia isso não num tom de lamúria, mas de resignação. Apenas isto. Apenas isto. Disse saber chorar como ninguém. Cria que poderia até existir alguém nesse mundo que chorasse mais do que ela, mas, jamais, melhor. Não que chorar fosse uma exclusividade da sua pessoa, mas ninguém chorava tão verdadeiramente, tão copiosamente como ela. Talvez estivesse chorando todas as suas ausências – assim de peito aberto com todos os brônquios por todos os poros – enquanto procurava um beco com saída, a mulher de olhos pretos feitos jabuticabas maduras.

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