O FORA SARNEY, A PASSEATA VIRTUAL E A DURA REALIDADE.

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Fora Sarney

 

Ontem (16/07/2009) foi o dia do #ForaSarney no twitter. Milhares de mensagens foram enviadas e o termo “passeata virtual” foi cunhado aqui no Brasil. Nada mais prático e mais descritivo de uma nação acomodada e passiva como a nossa.

Passeatas virtuais surtem o mesmo efeito de protestos reais marcados para um feriadão ou um dia útil no meio do expediente de trabalho: nenhum.

As atuais “lideranças” brasileiras não foram capazes de entender que a Internet é uma importante ferramenta de propagação de informações e, por isso mesmo, ela deve ser usada como forma de aglutinar e coordenar movimentos populares. Usá-la como única forma de expressão popular ou desejar modificar uma situação política ou social injusta usando apenas a Internet como meio e fim é impossível.

Chega a ser fantasiosamente ridículo imaginar que os senadores ficarão sentados diante das telas de seus computadores arrancando os cabelos e imaginando-se perseguidos por uma enorme população gritando “FORA SARNEY”.

A Internet cumpre o seu papel muito bem quando usada para a organização desses protestos e movimentos e como difusora de informações ou como fonte de propagação de orientações e estabelecimento de parâmetros para os protestos. O protesto virtual é válido como apoio e como forma de cutucarmos mais diretamente algumas forças políticas “mais antenadas” e que se “escondem” do povo em Brasília. Contudo, imaginar que haverá pressão suficiente para mudar uma situação como a permanência de Sarney no senado é ilusão.

Para coisas desse porte, a participação real e física de cada um de nós é imprescindível. A pressão provocada pela visão de uma massa popular descontente e enfurecida, gritando os famosos slogans de revolta pelas ruas é a condição “sine qua non” para qualquer revolução ou para qualquer grande mudança política em um país.

O exemplo do Irã deveria ser fundamental para que nossas “lideranças” entendessem de uma vez por todas que não é possível mudar o país de dentro das salas com ar-condicionado, tomando whisky doze anos e comendo petiscos. É preciso suar, é preciso ficar fedido e é preciso tomar uns cascudos da polícia. Sem isso, a coisa simplesmente não vai. Os protestos iranianos mostraram como a Internet cumpre o papel de coordenadora e de divulgadora dos movimentos. Mas jamais poderá substituir a presença nas ruas e a pressão sob o sistema que a visão da massa popular é capaz de provocar.

 

Sarney e as Descobertas   

Os protestos marcados contra Gilmar Mendes e José Sarney (o primeiro Fora Sarney) foram outro exemplo clássico de como não se deve organizar movimentos populares. No primeiro caso, as passeatas foram marcadas para um feriadão do Dia do Trabalho no mesmo horário das festas que as centrais sindicais promoveriam shows e sorteios de brindes em todo o país. O resultado foi uma mobilização pífia que, em nenhuma das cidades propostas, sequer gerou uma passeata. Só houve sucesso quando se marcou uma manifestação para um dia útil após o expediente. Mobilizar um povo como o nosso num feriadão onde são oferecidos shows, brindes de alto valor e toda a sorte de “atrações” é crer demais no censo cívico de um povo que dá mais valor a votação do paredão do BBB do que a de seus próprios representantes. No segundo caso (o Fora Sarney); marcou-se a manifestação para uma quarta-feira no meio do horário de expediente. Imaginar que multidões acorreriam para as praças, no auge de uma crise econômica, se arriscando a ter um dia de trabalho descontado ou a ser demitido é ilusão em nosso país. O brasileiro simplesmente não mata o trabalho por nada (ao contrário do que se imagina, a maioria pode odiar o que faz; mas teme perder seu emprego mais do que tudo). Como bom acomodado, o brasileiro não quer correr riscos. Quer o melhor dos dois mundos. Nas greves, espera que os outros tomem pau da polícia nos piquetes para que não tenha que entrar na empresa. É incapaz de arriscar-se a aderir a uma greve (mesmo justa) se outros não tomarem a frente e correrem os riscos por todos. Assim que o piquete é dissolvido; o trabalho segue normalmente. Diferentemente de países onde os trabalhadores entram na empresa, batem seus pontos e cruzam seus braços sem qualquer necessidade de piquete ou confusão. E mesmo que isso ocorra, o piquete é usado mais para evitar que a empresa traga trabalhadores estranhos a categoria do que para evitar a entrada do trabalhador  local regular.

Foi justamente por isso que durante toda a luta democrática e trabalhista as passeatas eram marcadas para depois do expediente e as greves sempre tinham uma grande massa de abnegados que serviam de piquete e de pára-raio para todo ódio empresarial, enquanto todos se beneficiavam das conquistas.

 

Sarney Arma a Cama do PT

Na política não é diferente. O senado já deu mostras de que não pretende livrar-se de Sarney pacificamente. Ao escolherem Paulo Duque (PMDB-RJ) para a presidência do Conselho de Ética, os senadores se blindaram em relação a opinião pública. Afinal de contas, Paulo Duque é senador sem ter tido qualquer voto; ele é suplente do suplente do ex-senador (e hoje governador do RJ) Sérgio Cabral. Nunca obteve qualquer votação expressiva no estado e sabe que nunca obterá. É fruto de nosso sistema eleitoral esdrúxulo e criado para beneficiar conchavos e criar “bois de piranha” que limpem a barra dos políticos que teriam algo a perder em ocasiões como esta.

Essa é a dura realidade do Brasil. Só com a Internet jamais conseguiremos mudar nada. Sem sairmos do conforto de nosso lar, da segurança e da proteção de nossas casas e se não nos arriscarmos; jamais mudaremos a situação caótica de nossa política e os seus reflexos perniciosos provocados em nossas vidas. 

Mais do que uma passeata virtual, precisamos voltar a encher as ruas e a parar o trânsito; precisamos ser xingados, tomar ovadas e borrachadas da polícia; precisamos ser presos por desacato, ao discutir com o policial que pede para sairmos das ruas e, fundamentalmente, precisamos correr riscos e querer mudar.

Sem isso; tudo ficará como está.

Pense nisso.

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